Por Rudolfo Lago – Correio da Manhã
Após a troca de Daniela Carneiro por Celso Sabino no Ministério do Turismo, o Centrão segue na disputa por outros ministérios. Diante da constatação de que hoje domina a maioria no Congresso, especialmente na Câmara, e que nenhuma agenda ou projeto do governo virá a ser aprovado sem o seu apoio, o Centrão comandado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), quer ocupar espaços proporcionais de poder na Esplanada dos Ministérios.
A primeira a ser rifada foi Daniela Carneiro, substituída pelo deputado Celso Sabino (União Brasil-PA), até há bem pouco tempo integrante fiel da tropa bolsonarista, A informação da exoneração de Carneiro saiu oficialmente no Diário Oficial da União (DOU) de sexta-feira (14). Agora, estão na mira do grupo os Ministérios da Saúde e do Esporte, além da Caixa Econômica Federal.
A constatação do poder do Centrão é matemática. Quando o governo não tem o apoio do grupo, não consegue aprovar sequer projetos de maioria simples. Caso, por exemplo, dos decretos que derrubaram as mudanças feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Marco do Saneamento. Em maio, quando o projeto foi votado na Câmara, foram 295 votos contra o governo e apenas 136 favoráveis. Quando Centrão e governo se associam, a vitória vem fácil. No primeiro turno da reforma tributária, por exemplo, foram 382 votos favoráveis e 118 contrários.
É essa dependência de votos, portanto, que faz o Centrão reivindicar mais espaços de poder. Desde a formação do governo, o grupo cobiça o Ministério da Saúde. A pasta já foi ocupada pelo PP, partido de Arthur Lira, em governos passados. No governo Michel Temer, o ministro da Saúde era o deputado Ricardo Barros (PP-PR). No entanto, durante um pronunciamento na sanção do programa “Mais Médicos” na sexta-feira (16), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já adiantou que não irá ceder Nísia Trindade de seu cargo no Ministério da Saúde. “Tem ministros que não são trocáveis. A Nísia não é ministra do Brasil, ela é minha ministra”, ressaltou Lula.
Feminicídio Político
E essa troca ministerial tem chamado a atenção para uma infeliz coincidência: quase todos os ministérios e cargos para os quais se cogita trocas ou redução de poder são chefiados por mulheres. Desde quando a medida provisória que reestruturou a Esplanada dos Ministérios foi aprovada e Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança Climática) e Sônia Guajajara (Povos Originários) tiveram suas equipes desmanteladas. Depois de Daniela Carneiro, a maior parte das vagas cobiçadas é chefiada por mulheres.
Como o Correio da Manhã já mencionou antes, o que aparenta é que as mulheres estão sendo trocadas de seus cargos facilmente. Algo que o jornal vem chamando de “feminicídio político”.
Contudo, em entrevista ao Correio da Manhã, a analista política da BMJ Consultores Associados, Raquel Alves, considera que os últimos episódios estão mais para uma “infeliz conjunção de fatores”.
“É uma pena ver reduzida a representatividade feminina de mais um cargo de destaque, mas a Daniela Carneiro não foi substituída por ser mulher, ela foi substituída por uma conjunção de fatores”, considera Raquel. Para ela, a negociação é “uma questão muito mais profunda do que uma briga entre homens e mulheres”.
“No momento, o Lula está fazendo uma negociação que é essencial para a sobrevivência política dele. Fica claro que o presidente precisa fortalecer uma coalização de governabilidade. Ele teve uma coalização para ganhar as eleições, mas que hoje não é mais suficiente para sustentar a governabilidade dele”, considera a analista política.
Longa fritura
O fato é que o longuíssimo período no qual Daniela Carneiro ficou na berlinda, sem saber se sairia ou não do governo é algo que certamente não fez bem a ela, não fez bem ao país e muito menos ao segmento de Turismo que ela administrava. A incerteza quanto ao tempo de permanência na pasta poderia ter comprometido o andamento de projetos e a formalização de contratos e convênios, pela dúvida sobre se eles seriam honrados por um novo ministro. Enquanto foi ministra, Daniela esforçou-se para que tal situação não a afetasse, cumprindo integralmente a sua agenda.
É o que faz agora a ministro do Esporte, Ana Moser, outra que sofre neste momento o assédio do Centrão. No domingo, Ana Moser embarcou para a Nova Zelãndia, onde acompanhará a abertura da Copa do Mundo de Futebol Feminino. A ministra assistirá ao primeiro jogo da Copa, entre Nova Zelãndia e Noruega, na cidade de Auckland, na Nova Zelãndia, na quinta-feira (20). O Brasil estreia na Copa na segunda-feira (24), em jogo contra o Panamá, na cidade de Adelaide.
Ana Moser não irá apenas assistir aos jogos ou mesmo representar o governo brasileiro. Sua principal tarefa é começar a trabalhar para que o Brasil venha a ser sede da próxima Copa de Futebol Feminina. E, nessa tarefa, ela embarca como se seu cargo não estivesse sob ameaça.
“Eu tenho dúvidas de que Ana Moser saia em um cenário imediato”, considera Raquel Alves. A consideração dela é que não seria o melhor momento tirá-la logo após a Copa do Mundo Feminina, ainda mais quando o governo tenta trazer a próxima Copa Feminina para o Brasil.
Esqueçam
O assédio do Centrão sobre suas ministras mulheres é algo que vem incomodando Lula. Assim como fez publicamente com Nísia Trindade, internamente Lula tratou também de defender Ana Moser. Na semana passada, conforme apuração da jornalista Natuza Neri, da Globo News, Lula disse o seguinte em uma reunião ministerial: “Esqueçam esse negócio de Ana Moser. Não posso tirar mais uma mulher. Achem uma outra solução”. Lula gosta de Ana e a considera um símbolo importante do esporte.
Blog do Magno
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