No momento em que enfrenta uma disputa acirrada contra o
ex-aliado Alvaro Dias (Podemos-PR) pela vaga de senador no Paraná, o
ex-ministro Sérgio Moro (União Brasil) fez um sinal de reaproximação com
o presidente Jair Bolsonaro (PL), com quem está rompido desde abril de 2020,
quando deixou o governo. Aliado de Moro, o ex-procurador Deltan
Dallagnol (União Brasil), que disputa uma cadeira na Câmara, se
movimenta no mesmo sentido e alinhou o discurso com a narrativa
bolsonarista em busca do eleitorado conservador e antipetista.
Enquanto Moro julgava os casos da Lava Jato, Deltan era membro da
força-tarefa que investigava os escândalos de corrupção na Petrobras,
que atingiram empreiteiros e políticos, entre eles o petista Luiz Inácio
Lula da Silva, cujas ações foram anuladas. “Jamais vou estar ao lado do
PT ou Lula. Em relação ao presidente Bolsonaro, eu tenho minhas
divergências, mas também tenho convergências”, afirmou Moro ao Estadão.
A saída do ex-juiz da Lava Jato da Esplanada dos Ministérios, onde
comandou a Justiça, foi motivada pela decisão de Bolsonaro de trocar o
diretor-geral da Polícia Federal, Marcelo Valeixo. Moro alegou
interferência. Desde então, ele passou a ser alvo de bolsonaristas e
adotou um discurso crítico ao governo, mas o tom foi amenizado na
campanha no Paraná.
“Pontualmente a gente tem se posicionado sobre as eleições nacionais,
até porque temos sido cobrados aqui (no Paraná). O União Brasil tem uma
candidata, a Soraya Thronicke, a quem eu apoio. Mas (meu apoio) depende
de quem vai estar no segundo turno. Se estiver o Lula, jamais estarei
com ele ou o PT. Existe uma questão de incompatibilidade não só de
pautas, mas ideológica. É uma possibilidade decorrente dos escândalos do
mensalão e petrolão”, afirmou Moro.
O ex-ministro também criticou a entrevista do ex-presidente ao Jornal Nacional,
da TV Globo, na semana passada. “O ex-presidente Lula não foi
inocentado. É um grande erro afirmar que ele não deve mais nada à
Justiça. A Petrobras foi saqueada nos governos do PT. Discordo
veementemente da afirmação de que ele não deve nada. Vimos a fragilidade
do Lula no debate (na Band) quando indagado sobre corrupção. Não tem
respostas.”
Crítico de Bolsonaro no passado recente, Deltan, por sua vez, poupa o
governo durante a campanha e centra todas as suas críticas no PT.
Quando questionado sobre o eventual apoio ao atual presidente da
República no segundo turno, o candidato desconversa. “Independentemente
de quem será o presidente, ainda que não seja o presidente dos seus
sonhos, ele não vai conseguir atuar e cumprir as promessas de campanha
se não tiver um bom Congresso”, afirmou o ex-procurador ao Estadão.
Antipetismo
Com o mote de campanha a promessa de “levar a Lava Jato” para
Brasília, Deltan baseia seu discurso no antipetismo. “Lula não consegue
explicar a corrupção e o fiasco econômico dos governos petistas. Por
isso, sua estratégia é mentir, inventar dados e culpar os investigadores
por terem desmascarado um esquema bilionário de desvio de dinheiro
público”, disse. O ex-procurador afirmou, ainda, ter receio da
“institucionalização” da perseguição aos promotores e procuradores e a
violação de sua independência.
Em um sinal ao bolsonarismo, Deltan abraçou a crítica aos manifestos
em defesa da democracia. “Na hermenêutica política, esse manifesto foi
uma ação político-partidária, não um ato de defesa genuína da
democracia. Foi um protesto político de um grupo contra (o atual
presidente)”, afirmou.
Aliado de Moro no Paraná, Deltan também saiu em defesa do deputado
bolsonarista Daniel Silveira (PTB-RJ). “Alguns grupos da carta dizem se
importar com a democracia, mas têm uma atuação muito seletiva,
ignorando, por exemplo, os abusos cometidos pelo Supremo Tribunal
Federal (STF) nos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos, e
a grave violação da liberdade de expressão e das prerrogativas
parlamentares do deputado Daniel Silveira.”
Blog do Magno