O presidente do Senado mudou de tática para blindar o Planalto de investigações comprometedoras. No ano passado, Rodrigo Pacheco retardou sozinho a criação da CPI da Covid. Agora ele costurou um acordo para que a maioria governista o ajude a barrar a CPI do MEC.
A manobra de 2021 foi parar no Supremo. Numa tentativa de enrolar a Corte, Pacheco alegou que a comissão poderia ter “efeito inverso ao desejado”, como “gerar desconfiança da população em face das autoridades públicas”. O ministro Luís Roberto Barroso não caiu na conversa. Leu a Constituição e mandou instalar a CPI.
Desta vez, o presidente do Senado convocou o bloco governista para socorrê-lo. Ontem ele anunciou que vai abrir a nova comissão, mas só depois das eleições. Atribuiu a decisão aos líderes partidários, que teriam decidido evitar a “contaminação das investigações pelo processo eleitoral”. Na verdade, o objetivo é driblar o Supremo e evitar que a CPI atrapalhe a campanha de Jair Bolsonaro.
A desculpa do calendário não para em pé. Aceitá-la equivaleria a dizer que o Congresso não pode investigar o governo em anos eleitorais. Até o fechamento das urnas, o Planalto ganharia uma licença para delinquir. Além disso, dois terços dos senadores não precisarão renovar o mandato em outubro. Haveria quorum suficiente para tocar a CPI — e a pandemia mostrou que os parlamentares não precisam estar em Brasília para trabalhar.
Impedir a investigação vai contaminar mais o processo eleitoral do que abri-la. A razão é simples: o eleitor tem o direito de saber se o presidente interferiu na Polícia Federal para proteger o aliado Milton Ribeiro e esconder a bandalheira no MEC.
Bolsonaro atua abertamente para neutralizar os órgãos de controle. Além de manter a PF sob pressão, conseguiu domesticar a Procuradoria-Geral da República e a Controladoria-Geral da União. Ontem o chefe da CGU, Wagner Rosário, relativizou o escândalo dos pastores e afirmou que não há corrupção na “alta cúpula” do governo.
Quem engolir esse discurso também deve acreditar que o presidente não vazou informações sigilosas antes da prisão do ex-ministro. Como disse Ribeiro, o homem só teve um “pressentimento”.
Por Bernardo Mello Franco - O Globo
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